quarta-feira, 2 de julho de 2008

Las Malvinas

Se tem uma coisa que me impressionou aqui foram as Malvinas. Na avenida argentina tem um enorme galpão com centenas de lojinhas...quase tudo de coisas roubadas! O lugar é conhecido por todos os Limenhos, gente que foi roubada, policiais, deputados, rateros (trombadinhas) e gente que quer ter acesso às "maravilhas modernas" por um preço bem em conta.
Tem cerca de 8 corredores x 4. A planta baixa não é exatamente retangular, é como um trapézio reto (um dos lados não paralelo ao oposto forma 90 graus com os dois paralelos). Cada um dos 8 corredores deve ter quase 100 metros de extensão com lojinhas dos dois lados com desde 1,5m à 4m de extensão, dependendo do que vende.
Há lojas só itens eletronicos (em maioria mp3, mp4 e cameras fotograficas); de vestuário (estes aparentemente novos, com exceção dos tenis); de equipamentos de camping como barracas, sacos de dormir e mochilas cargueiras (provavelmente roubadas de turistas que tiveram a viagem zuada); de ferramentas, usadas e roubadas. A de ferramentes me lembrou as linguiças no açougue: usar o resto, ou seja, roubaram uma casa, levaram umas ferramentas e tem que vender...
A priori me surprendeu a institucionalidade da parada, tinha agente da polícia nacional do lado de fora (aqui não é uma república federativa, então não tem polícia estadual) e enquanto voce estava vendo uma coisa aparecia um ladrão com uma par de coisas na mão, recém roubadas, negociando a venda com o dono da loja. Depois lembrei do Brasil e tudo me pareceu tranquilo. E na verdade não há nada o que fazer. O roubo é uma atividade inerente ao capitalismo, a começar pela mais-valia, cujo montante supera qualquer outro roubo, mas esse não tem problema nos "países livres".
As pessoas são bombardeadas todo o tempo pela felicidade que pode ser comprada, pelo LG (life is good quando voce tem um super celular). Pensar que num país onde menos de 15% da população economicamente ativa está empregada e formalmente empregada não haverá quem roube e quem compre o que foi roubado é uma doce e infantil ilusão. Alguns moralistas tem tal ilusão, pena que como solução sugerem o uso da polícia, bem ao estilo veja. Aumentar salários, distribuir renda, fazer reforma agrária, planejamento familiar nada. E isso para trabalhar dentro da ordem vigente, porque os moralistas não conseguem enxergar outra.
Isso ae, se o estado não faz o povo faz. Sei como é ser roubado, fui roubado em Quito, e sei que não é legal, não foi o melhor evento da minha vida. Mas não tenho dúvida que é um mecanismo de distribuição de renda junto com a pirataria, contrabando e todas essas coisas que não agrada o sistema, mas que não pode ficar sem. Na real há coisas que desagradam uma parte dos donos do mundo, mas convém à outras. Como a pirataria, odiada pelas gravadoras, mas adorada pelas fabricantes de cds virgens. E há outras que se fingem que desagradam, mas todos adoram, como as drogas: adoradas o pelos fabricantes de armas; pelos bancos yankees que são os que mais ganham com a lavagem de dinheiro; pelo governo de tal país que tem um motivo para implantar bases militares nas suas colônias sem que a área plantada de coca reduza um hectare (ver plan colombia); no caso da colômbia a Dyn Corp. manda saludos también!
Ah, esqueci de dizer, comprei minha camera aí, sem remorso.