quarta-feira, 2 de julho de 2008

Las Malvinas

Se tem uma coisa que me impressionou aqui foram as Malvinas. Na avenida argentina tem um enorme galpão com centenas de lojinhas...quase tudo de coisas roubadas! O lugar é conhecido por todos os Limenhos, gente que foi roubada, policiais, deputados, rateros (trombadinhas) e gente que quer ter acesso às "maravilhas modernas" por um preço bem em conta.
Tem cerca de 8 corredores x 4. A planta baixa não é exatamente retangular, é como um trapézio reto (um dos lados não paralelo ao oposto forma 90 graus com os dois paralelos). Cada um dos 8 corredores deve ter quase 100 metros de extensão com lojinhas dos dois lados com desde 1,5m à 4m de extensão, dependendo do que vende.
Há lojas só itens eletronicos (em maioria mp3, mp4 e cameras fotograficas); de vestuário (estes aparentemente novos, com exceção dos tenis); de equipamentos de camping como barracas, sacos de dormir e mochilas cargueiras (provavelmente roubadas de turistas que tiveram a viagem zuada); de ferramentas, usadas e roubadas. A de ferramentes me lembrou as linguiças no açougue: usar o resto, ou seja, roubaram uma casa, levaram umas ferramentas e tem que vender...
A priori me surprendeu a institucionalidade da parada, tinha agente da polícia nacional do lado de fora (aqui não é uma república federativa, então não tem polícia estadual) e enquanto voce estava vendo uma coisa aparecia um ladrão com uma par de coisas na mão, recém roubadas, negociando a venda com o dono da loja. Depois lembrei do Brasil e tudo me pareceu tranquilo. E na verdade não há nada o que fazer. O roubo é uma atividade inerente ao capitalismo, a começar pela mais-valia, cujo montante supera qualquer outro roubo, mas esse não tem problema nos "países livres".
As pessoas são bombardeadas todo o tempo pela felicidade que pode ser comprada, pelo LG (life is good quando voce tem um super celular). Pensar que num país onde menos de 15% da população economicamente ativa está empregada e formalmente empregada não haverá quem roube e quem compre o que foi roubado é uma doce e infantil ilusão. Alguns moralistas tem tal ilusão, pena que como solução sugerem o uso da polícia, bem ao estilo veja. Aumentar salários, distribuir renda, fazer reforma agrária, planejamento familiar nada. E isso para trabalhar dentro da ordem vigente, porque os moralistas não conseguem enxergar outra.
Isso ae, se o estado não faz o povo faz. Sei como é ser roubado, fui roubado em Quito, e sei que não é legal, não foi o melhor evento da minha vida. Mas não tenho dúvida que é um mecanismo de distribuição de renda junto com a pirataria, contrabando e todas essas coisas que não agrada o sistema, mas que não pode ficar sem. Na real há coisas que desagradam uma parte dos donos do mundo, mas convém à outras. Como a pirataria, odiada pelas gravadoras, mas adorada pelas fabricantes de cds virgens. E há outras que se fingem que desagradam, mas todos adoram, como as drogas: adoradas o pelos fabricantes de armas; pelos bancos yankees que são os que mais ganham com a lavagem de dinheiro; pelo governo de tal país que tem um motivo para implantar bases militares nas suas colônias sem que a área plantada de coca reduza um hectare (ver plan colombia); no caso da colômbia a Dyn Corp. manda saludos también!
Ah, esqueci de dizer, comprei minha camera aí, sem remorso.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Mais fotos

Serro Azul - Cidade/Praia ao sul de Lima. Começamos o dia com fome...um sortido de pescados e frutos do mar com mandioca fritaPrimeira vez que leio jornal na praia
A praia e o "Serro"
Tremendo depois de entrar no pacífico!
Eu, Aino(Finlândia) e Ida (Noruega)

Em cima do Serro, com as onipresentes cruzes

Fotos

A pedidos da Natalie, algumas fotos de eventos passados

Aniversário da norma. Embaixo: Marco(Peru), Angélica(Peru), Érika(Argentina). Em cima: Madu(Peru), Gustavo(Brasil), Maroca (vulga Paola, Peru), Mayra(México), Dulce(Peru), Norma(Peru), Eu
Aniversário do José Miguel (irmão da Madu). Primeira tentativa
Segunda tentativa
Enfim, tem que ter um engenheiro pilotando esse avião. (repare que o Gustavo não tirou a mão do bolso)
Dança do cuy. Repara no figura do pai da Madu

Dança das cadeiras

quinta-feira, 26 de junho de 2008

É, a culpa é do sistema

Tem coisa que é prática, escrevr é uma delas. Antes eu começava a escrever um post e já imaginava para onde ia, agora mal sei por onde começar.

Passei por alguns choques culturais aqui, mas tudo razoavelmente resolvido. Alguns chegaram a me irritar e depois que os entendi fiquei mais tranquilo. Penso que para outras pessoas a situação é bem pior (vide europeus e estadunidenses). Acontece que os choques podem levar às mais distintas interpretações e ramificações destas. Como bom exatóide, vou exemplificar.

Tem um outro brasileiro que está de intercambio na PUC (aqui chamada de católica, e o pessoal usa camisetas escrito "católica" bem grande no peito) ele me conta a impressão dos europeus que convivem com ele e pelo visto sobram piadas sobre os "latinos" e comentários como "os latinos são lentos". A minha primeira reação foi pedir que os mandassem a merda por mim.
Depois de algum tempo por aqui na Universidade eu percebi que eles tem uma certa razão (continuem a ler, por favor). Acontece que, para os europeus, os latinos são lentos porque são latinos. E na verdade é isso, os latinos são, junto com o resto do mundo pobre e explorado, os que pagam o estado de bem estar social europeu; o nosso cacau exportado é o chocolate de primeira deles; a nossa escravidão é a liberdade deles; o nosso biodisel é a consciência ambiental deles; as bibliotecas e universidades deles são a nossa lentidão; os nossos salários mais baixos são os altos deles...
Não gosto de fazer essa divisão em paises, melhor seria fazê-lo em classes, dado que essas dualidades acima expostas estão presentes internamente no Peru, no Brasil e mesmo na França ou Suécia.
Mas o principal é que existe uma razão material para isso. Os caras da minha sala as vezes tem dificuldade em ler os instrumentos de medida no laboratório, mas se ve que eles não fizeram aquilo antes, provavelmente nunca viram um antes. Quando se tem que contar o dinheiro do busão para ir para a Universidade; quando se estudou no campo; quando se viveu numa área com contaminação de chumbo (como é a região do callao aqui em lima, em que crianças foram encontradas com uma concentração de chumbo no sangue 10 vezes superior ao indicado como limite pela OMS); quando a primeira vez que entrou numa biblioteca foi na universidade fica meio foda não ser lento.
Outra impressão é que "é só festa na América Latina". Que bom!- Digo eu. Com toda humilhação, sofrimento e exploração que sofre a gente por aqui vejo três tipos de respostas: resignação, violência ou "trabalhar o ano inteiro por um momento de sonho, pra fazer a fantasia, de rei ou de pirata ou jardineira e tudo se acabar na quarta-feira". Pior seria a resignação.

Passadas as impressões dos outros vamos à alguns fatos do dia-a-dia. Das pessoas que eu mais tenho contato aqui estão duas intercambistas da San Marcos, uma Finlandesa e outra Norueguesa. Ambas brancas, loiras e de olhos claros. Elas vivem reclamando, e não lhes tiro a razão, de que são constantemente abordadas na universidade, nas ruas e onde quer que seja por homens que não tem absolutamente nada a dizer e simplesmente querem "tentar algo" com elas. Segundo elas chega a acontecer mais de uma dezena de vezes por dia! Quem faz isso aqui tem o nome pejorativo de "britchero", que vem de "bridge" ("ponte" em inglês), isto é, arrumar um gringo ou uma gringa que te leve para os Eua ou europa enfim, que te serve de ponte. Este é mais um caso de humilhação da gente daqui. Já não basta terem sido e continuarem sendo explorados pelos donos do mundo eles ainda aprendem a idolatrá-los!
Nas propagandas daqui só tem gente branquinha, estilo europeu; a cultura que presta é a do velho mundo; os filmes os yankees. Cheguei a ver umas coisas absurdas como a propaganda de uma rádio, na qual traduzem uma música, originalmente em inglês, para o espanhol e dizem: "veja como fica melhor"- Entra a música original (em inglês) e fala a voz do locutor: "algumas coisas soam melhor em inglês, x.yFM, a sua rádio em inglês!" Enfim, tudo isso para dizer que Lima é uma cidade muito racista, as pessoas são criadas dentro dos padrões europeus e yankees de cultura e beleza. Dado isso e a seguinte pergunta que fiz no bar para as duas: -quantas loiras voces veem aqui?- Seguida de um riso que significava -só nós duas- entendi os peruanos...mas não queria estar na pele das duas.
Sou prolixo e não vou melhorar isso nesse post, então ao invés de concluir eu vou me extender no que se refere ao racismo. Este também tem sua motivação material. O indígena aqui é a maioria, mesmo assim é o mais explorado e pisado, como sempre o foi desde épocas coloniais. Tanto no campo como na cidade seus direitos são atropelados e como aqui, segundo a mídia gorda, estamos numa sociedade democrática quase 80% dos trabalhadores não têm seus direitos plenamente respeitados ou vivem na completa informalidade. Dado tal realidade, temos que também são os indígenas, ou descendentes deles os que mais incomodam os donos do Peru e a parcela dos donos do mundo que investem por aqui (estes últimos dois aliados de longa data). Como são estes últimos os que controlam a mídia, as escolas, as universidade, as boates, etc, eles costumam fazer propagandas com modelos européias, as vezes brasileiras; eles fazem revistam com questionários temáticos com a pergunta (pejorativa, claro): "quão índio voce é?"; muitas vezes eles barram gente com feições indígenas de boates ou restaurantes; muito comumente eles põe como pré-requisito nas chamadas de trabalho:"boa aparencia"; e claro, línguas nativas são proibidas! Tirando o quechua não tente procurar aulas de outras línguas nativas aqui, nas faculdades de antropologia dos eua sim, aqui não! Isso é muito simples, pensando como um "dono" de fábrica: -se dois índios apertadores de parafuso discutem quem é mais índio que quem, obviamente eles deixam de discutir o que poderiam ganhar com uma greve-

Por fim algo comigo. Como lhes disse, as bibliotecas aqui são fechadas e você tem que esperar que alguém pegue o livro pra você. Outro dia fiquei uns dez minutos esperando que o carinha da biblioteca me atendesse. Ele não estava no banheiro nem nada, estava organizando uns papéis e conversando comigo. Fiquei incomodado com a situação, pensei que ele poderia me atender e voltar ao que estava fazendo, mas deixei passar. Conversando com o brasileiro da católica que já falei, trocando experiências parecidas, percebi uma certa revolta nele com a burocracia, dizendo que era primitivo aqui. Claro que nós não somos exemplo de eficiência nas instituições, nem públicas nem privadas quando se trata de atender um cliente que não tem muita escolha (vide telefônica). Mas para mim algumas coisas são uma falta de praticidade e agilidade que pareciam inconcebíveis. Parei para pensar materialmente e comecei a me perguntar para que queria aqueles 10 minutos e porque me sentia incomodado naquela espera? Aqueles 10 minutos não me serviam para nada, eu queria a eficiência pela eficiência. O ritmo do capital em que "time is money" estava tão impregnado em mim e é o tempo todo estimulado pela universidade, pelo deus mercado que acabamos prezando pela eficiência e ganhar uns minutos para ficar mais sós na frente de nossos computadores do que ter uma boa conversa. É claro que aquele senhor de província não tinha os mesmo valores impregnados e por isso aquela não era uma situação estranha para ele...
Antes eu levava com humor a explicação das coisas com a frase "a culpa é do sistema", agora acredito plenamente.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

E eles se foram...

No domingo, primeiro de junho o Gustavo se foi. Entendo a posição dele e acho que, apesar dele ser muito ansioso, penso que fez o certo. Veio aqui para estudar arte contemporânea e só encontrou século XVIII, já está formado e com algumas oportunidades de trampo e acadêmicas no Brasil e já aprendeu um espanhol e deu uma viajada, coisas que, entre outras, fizeram a viagem valer a pena. Ressalto que nenhuma dessas palavras saiu da boca dele, é apenas o que eu avaliei e também penso que há milhares de motivos para alguém voltar para o seu país.
Para mim o único bom disso é que eu roubei a sua cama, que é mais confortável e posso zonear mais o quarto, mas não por muito tempo (explicações mais à frente). Como eu disse para as meninas aqui: era quase um casamento sem sexo! Fazíamos comida juntos, viajávamos juntos, comprávamos coisas para o quarto juntos, enfrentávamos burocracia juntos e passávamos por problemas parecidos, o que nos rendia longas conversas. Exageros à parte, visto que quando aprendemos a nos virar por aqui já fazíamos tudo sozinhos, vai fazer falta alguém do mesmo país e do mesmo sexo para trocar uma idéia e compartir momentos.
Até agora só contei a história do Gustavo, mas o título está no plural. Na sexta-feira estava eu na tradicional cervejinha no bar em frente da San Marcos quando recebo uma triste notícia: o pai da Norma havia falecido pela tarde e ela iria voltar para o México naquela noite. Despedi-me das pessoas com quem estava e fui para casa. Como nessas horas não há nada o que dizer dei um longo e apertado abraço de consolação e ela chorando me disse: "mucho gusto en conocerte". Eu lhe perguntei se não voltava, ela disse que não e eu disse que ia para o aeroporto junto com todos me despedir dela. Foi bem triste para todos, principalmente para Mayra (a outra mexicana), dado que as duas eram bem grudadas.
Estava conversando com a Natalie e concordamos que um intercâmbio te deixa muito mais sensível emocionalmente, então este tipo de coisa parece que te afeta mais. Pensar que seu pai morreu do nada (infarto) com menos de 60 anos e segundo dizem era bem saudável me traz algumas preocupações. A primeira é quando ao meu pai que sempre anda trabalhando muito, faz pouco exercício e como todos na família é bem ansioso e não consegue esquecer suas preocupações. Depois é pensar que aquelas pessoas para quem você deixou de dizer algo, deixou de abraçar-la, de dar-lhe um presente ou seja lá o que for, pode ir-se a qualquer momento.

terça-feira, 20 de maio de 2008

A música ou o monóxido, eis a questão?

Das sete artes com certeza a que mais gosto é a música. Ontem fui num bar que toca um jazz violento e não se paga couvert. Convenci-me mais ainda da primeira oração deste post. Viva o pandeiro, o trompete, o violão, a voz e tudo mais que permite ao ser humano fazer poesia cantada, com ou sem canto.
Em segundo lugar está a sétima arte (estou me apaixonando pelo sete). Hoje assisti um filme do eisenstein (que não é o encouraçado potenkim), ele manda muito bem.
Enfim, dias atrás estava difamando Lima por ser uma cidade grande, ter todos os problemas de uma metrópole sul-americana e pouquíssimas vantagens que tal tamanho pode oferecer. Estou mudado de opinião. 
Às vezes o conservadorismo da cidade, inalado junto com o abundante monóxido de carbono me faz voltar a primeira idéia. Mas venho melhorando a imagem de Lima, pois ando descobrindo coisas como esse bar, como um centro cultural que tem atividades gratuitas todos os dias, o cinematógrafo, a videoteca da puc e coisas do gênero, além de já estar familiarizado com o louquíssimo transporte "público" de Lima.
Este post vai terminando aqui, inversamente proporcional ao tamanho da minha preguiça.
PS.: a roubo da minha câmera contribui para a recente ausência de fotos.
PS2.: Continuo pensando que nunca moraria em Lima, tampouco em Sao Paulo.

domingo, 11 de maio de 2008

Um país que não lê

Contarei aqui alguns casos da minha experiência e da de outros com livros:
1 - A primeira impressão que me deu ao entrar na biblioteca da puc e depois nas da San Marcos foi: "que porcaria!" Não pelo quanto ou quais livros tinha, mas pelo fato de serem fechadas. Isto é você não pode simplesmente dar uma passeada pelas estantes e se deparar com um livro que te pareça interessante. Além do mais necessita que alguém esteja lá e pegue o livro para você, o que deixa o processo de emprestar livro bastante mais lento. Na biblioteca central, mesmo tendo o código, você necessita entrar em um dos computadores do primeiro piso (nem sempre tem disponível para todos), procurar o livro de novo num sistema de procura um pouco burro, inserir seus dados e fazer o pedido. Feito isso você vai até o lugar onde está (primeiro ou segundo piso) e torça que não tenha muita gente na fila e que os atendentes estejam com boa vontade.
Após a primeira vez que fiz isso eu vi que o buraco é bem pior: na biblioteca central daqui não se emprestam livros para levar para casa, apenas para consulta na biblioteca! Tem uma máquina de xerox do lado de onde se recebem os livros e se você precise de uma parte ou de todo o livro pede para copiar. Isso para mim é um grande desestímulo à leitura causada pela falta de livro, fruto do sucateamento explícito e visível na San Marcos.
2 - Fui na biblioteca da Faculdade de Eletrônica emprestar um livro (lá se leva para casa, mas só por três dias) e pedi para ver o catálogo e resultou no seguinte diálogo:
- Quer livro de que?
- Quero ver o catálogo
- Sim, mas quer livro de que?
- Quero ver quais livros de eletromagnetismo tem aqui
Ele virou as costas, pegou um livro de eletromag do David Cheng (utilizado por alguns professores na elétrica da unicamp) traduzido e reduzido em espanhol e me disse: "aqui usamos este livro". Enquanto eu olhava pacientemente para cima e contava até dez como minha mãe me ensinou chegou um outro cara e pediu: "livro de dispo (dispositivos eletrônicos)" e recebeu um livro específico sem nem ter mencionado o autor. Entendi a situação, me resignei e fui tirar xerox porque ainda não podia fazer "empréstimos externos" (problema já resolvido e que não vale muito a pena contar).
3 - Lembro-me do meu irmão lendo o stewart (livro de cálculo usado pelos engenheiros da unicamp) e dizendo: "que bosta de livro de engenheiro sem rigor! Tipo 'aprende aí, aprende aí'". Pois é, conversando com um cara aqui da elétrica ele me disse que esses livros são para quem quer se aprofundar. Explicando: geralmente eles usam livros de um professor de matemática da UNI (Universidade Nacional de Engenharia), um tal Espinoza que ganha uma puta grana fazendo livros de matemática superior tudo mastigadinho e claramente com o intuito operacional, sem nenhuma demonstração, pouco rigor e com muito exercício. O pior de tudo é que, como pouquíssima gente aqui sabe inglês, muitas vezes sobra para os físicos usarem esses livros também!
4 - A língua é outro grande gargalo aqui e em todo lugar, incluso no Brasil, mas aqui a coisa me parece pior. Na unicamp muitos cursos têm em seus catálogos a obrigatoriedade de cursar línguas oferecidas, bem ou mal, pela própria universidade. Aqui isso não existe. E geralmente, na San Marcos, poucos ingressantes sabem outra língua, costumam começar seus estudos de línguas na faculdade. E não são só os estudantes...um professor da já citada Ida, pediu-a para traduzir um texto em inglês porque ele não sabia ler em tal idioma, mas tinha a referência de tal texto. Bom, não necessito explicar a consequência de tal fato
5 - Numa aula de epistemologia o professor perguntou para alguns alunos quantos livros tinham lido nos últimos 4 anos e haviam respostas absurdas como 6, 4, 3. Não imagino que a média de leitura dos engenheiros no Brasil seja alta e também não estou afirmando que a população brasileira seja uma assídua leitora, só quero afirmar que aqui é um país em que se lê menos que no Brasil.
6 - Por mais nojentas que sejam essas grandes livrarias (e os livros que aí se vendem) que se encontra em todo shopping no Brasil, elas existem e no pior dos casos você pode encomendar livros, incluso por internet. Aqui não existe isso. As livrarias (que na verdade são tendinhas de livros como uma feira) em Lima ficam concentradas em dois pontos: Quilca e Amazonas. No primeiro lugar eu fui e não tive uma boa experiência, no segundo estou por ir.
Em Quilca se encontram bastante livros de literatura peruana, clássicos da literatura mundial como Gabriel Gracía Marquez, Cervantes, Shakespeare e da filosofia como aristóteles, kant, pouco marx e muito manual de exatas e livros de auto-ajuda. Os livros são baratos, alguns usados outros novos, mas se você procura algo mais específico, como era meu caso, pode esquecer. Passei mais de três horas lá e não achei nenhum dos dois livros que procurava, um do Thomas Kuhn e outro do Jorge Lora Cam.
O pior é que não tem onde pedir, não encontro sebos, pois estes também são sebos. Um destes livros tinha na biblioteca da San Marcos, tirei xerox, o outro estou por encontrar.
7 - Diferente do que costuma acontecer de vez em quando no Brasil, aqui nunca vi ninguém ler livros enquanto espera numa fila, enquanto está num busão ou coisa do gênero. O máximo que vi foi o pessoal lendo jornalzinhos do estilo "Já" (para quem não conhece este é um jornal de preço e linguagem altamente acessível para trabalhadores de baixa renda e que tem o papel fundamental de propagar as idéias mais reaças nesta mesma gente, superando até a veja). Aliás aqui é só o que tem são esses jornais.

Como 7 é o número da completude vou ficando por aqui.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Policial é proletário, mas é mercenário

Estou escrevendo este post mais com o coraçao do que com a razao, por isso pode sair uma metralhadora de coisas as vezes sem sentido. Tenho que contar da minha viagem até ao equador, do problema da minha matrícula e uma ou outra coisa que me passou esses tantos dias que nao escrevo, mas antes que passe a raiva tenho que escrever este.
Primeiro deixe-me colocá-los por dentro do que está rolando aqui. Uma das "esquinas" da San Marcos fica no cruzamento da Avenida Universitaria com a avenida Venezuela. Pelo que entendi, antes este cruzamento era uma grande zona. Assim como Sao Paulo a prioridade nao é pensar decentemente o transporte público, mas fazer megaconstruçoes que dao visibilidade política e muito dinheiro para os donos de emprenteiras, geralmente amigo dos nossos "representantes". Para o pessoal de sao josé, que deem uma procurada no caso de amor entre a tucanalha e as emprenteiras do vale, que financiaram emanuel, cury e toda a laia de filho da puta do genero que "deixaram a cidade mais bonita", principal justificativa da classe média para votar nos tucanos. Para esses eu recomendo dar uma olhada no caso do pinheirinho e visitar os hospitais públicos, praticamente privatizados por debaixo do pano.
Bom, voltando para cá, o discurso de modernidade, crescer e consolidar a democracia é bem vigente e com esse discurso lançaram a obra do by-pass venezuela, que nada mais é do que ampliar a universitária e fazer subir a Venezuela por cima da Universitária (um viaduto). Acontece que para ampliar a Universitária eles vao tirar só um pedacinho da San Marcos, nada mais que 28000 metros quadrados que foram gentilmente vendidos pelo reitor (apesar da venda ainda nao estar concretizada). Nao é só uma questao simbólica de vender e dizer foda-se a universidade para construir estradas para que as sucatas japonesas (quase todos os carros e "onibus" aqui sao assim, mitsubishi, missan ou toyotas cainda aos pedaços e poluindo pra cacete). Existem dois motivos que pegam: a escasses de espaços para expansao, mas o fato de que a porra da avenida vai passar a menos de 10 metros da faculdade de mecanica de fluidos e a menos de 20 metros da de eletronica, ambas, para variar, quase totalmente desmobilizadas no estilo "deixe que alguém lute por mim". Se voces passarem 5 minutinhos na avenida universitária nao vao querer nem imaginar fazer uma prova do lado dela. A Puc também fica nesta avenida, mas seus prédios ficam todos bem deslocados para o outro lado, dando mais de 50 metros de distância.
Só um apêndice: me lembro uma reportagem daquele lixo da veja mostrando os carros caindo aos pedaços da venezuela e de alguma maneira isso era culpa do chavez e ameaçava a democracia....eles deveriam dar uma passeadinha nos taxis daqui.
Voltando ao by-pass...há meses que os estudantes, depois de terem formulado uma proposta alternativa para o by-pass e nao se colocando terminantemente contra como aparece na mídia (que nao era de se esperar mais do que ser mentirosa), tentam o diálogo legítimo e legal com a reitoria e com a prefeitura metropolitana de lima, responsável pela obra. Ou seja, agindo bem no estilo veja-globo-classe-média-imbecil. É claro que dialogar com estudante nao está na agenda do Castañeda (prefeito) nem do reitor Luiz Izquierdo (que de esquerda nao tem nada), coisa comum na nossa consolidada democracia onde os amigos dos donos de empreiteras detem as decisoes políticas e os mecanismos de diálogo.
Bom, a gente finge que está falando com uma porta uma, duas, tres vezes, ou como Jesus cristo dá a cara a tapa 2 vezes....a terceira é pra cair na porrada! Esse papinho de dialogar e ser pacífico convém para a burguesia reacionária quando o povo se levanta. Na terça-feira aqui tomaram o centro de tecnologia de informatica (añguma coisa assim) e se nao me engano o predio do Sum (sistema uníco de matrícula) e subiram a voz os clamadores e adoradores do diálogo da reitoria burocrática. Depois de muito apanhar da polícia, que irresponsavelmente dá tiros - de chumbo- para o ar, tomar gás lacrimogênio na cara em manifestaçoes pacíficas, ter amigos presos e tudo com o aval do democrático reitor, que adora o diálogo, chegou a vez dos estudantes usarem da "violência".
Para os pacifistas que tem uma jornada de 8 horas diárias e estao achando o que estou dizendo absurdos vou relembrá-los alguns fatos. Do dia primeiro de maio ao dia 4 de maio de 1886 mais de trinta trabalhadores morreram e cerca de 12 policiais nos estados unidos em confrontos que nao mais pediam que as suas queridas 8 horas diárias de trabalho. Os ideais que tanto pregam a burguesia nao foram concretizados pela via pacífica e pelo diálogo, mas sim com muito sangue derramado principlamente pela revoluçao francesa e pela gloriosa (na Inglaterra). As nossas leis trabalhistas aqui foram conseguidas com a morte e prisao de muito sindicalista e ao preço da cooptaçao dos sindicatos. Nao sejamos idiotas e pensemos que estamos numa linha reta sempre melhorando, fique parado na sua casa assistindo tv e ve se seus direitos trabalhistas, seu hospital e sua escola nao vao embora.
Mas é claro, a classe média tem que engolir uns sapos, mas paga convenio de saude, mora em condomínio fechado, tem dinheiro para pagar escola para os filhos, previdencia privada, logo nao tem muita motivaçao material para mexer a bunda da cadeira. Sim, é fácil para nós nessa condiçao pedirmos para quem estar passando fome ter calma, dizer que o Brasil, ou o Peru está crescendo, estamos "caminhando". E as crinças famintas ouvem isso enquanto seus ossos se desfazem e seu cérebro se atrofia.
Pois é, enquanto os tais ossos se desfazem aqui na San Marcos, estava rolando uma porrada feia entre estudantes e policiais. Começou pacificamente e como sempre os policiais a transformaram em muita pedra, muito gás lacrimogênio, caminhoes com jatos d'água e gente ferida dos dois lados. Pela primeira vez na minha vida eu vi uma porrada desse naipe em que os estudantes conseguiam avançar, foi bastante curioso vê-los fazer com que a policía retrocedesse, cinco ou seis malucos correndo atrás de um ou dois policiais para sentar porrada e tomar um de seus carros blindados. No que se trata da açao em sí, sem dúvida o mais impressionante foi a tomada e destruiçao de um carro blindado. Era uma questao estratégica, toda vez que ele avançava a galera tinha que recuar muito para poder tomar posiçao de novo, quando conseguiram tomá-lo o demoliram, pois nao podiam usá-lo. Alguns pensaram em vandalismo, eu penso que se alguém está tentando quebrar seu braço e você pode furar seu olho nao tenha dúvida em faze-lo.
Apesar da polícia aqui me parecer desorganizada, estrategicamente idiota e sem recursos (em diversos momentos acabaram as bombas de gás e chegava uma caminhonete com mais), uma massa dispersa de estudantes desorganizados, sem proteçao e sem reforços para chegarem nao tem muita chance de vencer o confronto. Ou seja, a polícia entrou no campus e a arma dos estudantes passou de pedras a palavras, como palavras nao quebram dedos nem joelhos a polícia começou a levar a galera a rodo, sem motivo e que nem porco um em cima do outro no camburao. Teve gente que nao tinha absolutamente nada a ver que foi "subida" como dissem aqui os mercenários: "súba-los" quando alguém, que as vezes nem era estudante, protestava contra uma prisao arbitraria. Quando estes filhos da puta tomam conta da situaçao eles se sentem muito machos para dar tapa na cara, fechar a tampa do porta-mala no pé dos caras e por aí vai.
Narrado o fato quero colocar alguns itens aos estúpidos que costumam repetir o discurso midiático. Já falei aqui do decreto 982 (detalhe para o DECRETO e nao referendo) que muda radicalmente o código penal e dá carta branca para que os policiais metam balaço a vontade (decretado por Alan García). Aqui também o discurso do terrorismo pegou e a polícia pode te prender sem muito motivo, ou melhor, sem nenhum. Aqui ainda valem 3 dos 4 decretos anti-terroristas de 1992, quando Fujimori assume definitivamente como ditador, mesmo que a OEA (que convenhamos nao é dos órgaos mais democráticos) disse que ferem a convençao Americana dos Direitos Humanos apenas um deles, o 25.659 foi considerado inconstitucional pelo tribunal constitucional do peru. Se pensam que estou mentindo, procurem sobre o caso de Melissa Patiño, acusada de terrorismo e presa na fronteira quando voltava de um congresso bolivariano no equador, completamente aberto e legal. Mesmo assim veja o que a mídia divulga, parece linha direta: http://www.dailymotion.com/video/x5604r_mellisa-patino_news (e mostra que estao te viagiando sim). Assim como ela tem mais uns cinco ou seis que já expiraram o prazo de prisao preventiva e nada sai. Aqui também andaram fechando alguns bares alternativos no centro e fichando todo mundo que estava lá, o último que fiquei sabendo foi no tal do El Averno. Como a Veja é uma grande defensora da democracia e sempre levanta sua voz no caso de ameaças a tal regime (vai tao longe que as vezes apoia até golpes de estado) , como no caso de Hugo Chavéz, dado que nao se pronuncia quanto ao Peru penso eu que aqui estamos num país onde a democracia está consolidada. Me sinto até seguro... e a raiva passou...

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Brasil, meu brasil brasileiro

Este fim de semana não escrevi pois tive um fim de semana bem agitado. E, sem apelos nacionazistas, mas o Brasil é demais!
Sexta-feira fui ao bar com intercambistas e peruanos fazer revolução.
No sábado fui a praia com Ida (Noruega) e Aino(Finlândia). Duas hora daqui porque as praias de Lima são bem feias e um pouco sujas. Chegamos lá e não é que era bonito, pelo contrário: as praias brasileiras são indiscutivelmente 200 vezes mais bonitas (e mais quentes). Mas para quem nada nos fiordes tá tudo maravilhoso! Comemos um delicioso prato com mariscos fritos, cebola, choclo (graos de milho gigantes), juca (mandioca) frita por deliciosos 10 sóis. Depois descobrimos que não havia água na cidade e que isso é normal...fiquei imaginando como cozinham, mas por enquanto meu intestino está normal como quem passa pelo desafio Activia com dan regularis (seja lá o que for isso).
Foi bastante divertido ver que para as duas era uma grande experiência antropológica ver os pescadores chegando nos seus barquinhos depois de dias no mar e que isso não tem nada de romântico como a música homônima de bossa nova. Também não foi nada impressionante ver como os artesanatos para gringos são tão parecidos como os brasileiros e como me vinham oferecê-los como se fosse um europeu que nunca vira uma concha. Mais uma vez fui muito bem recebido quando disse ser brasileiro e as meninas também quando viam seus olhos azuis. É impressionante como os peruanos se desvalorizam e prevalece o padrão europeu, bastante raro aqui. Depois não entendem quando Chavez não renovou a concessão da RCTV.
Voltamos no mesmo dia pelo módico preço de 10 sóis. Aqui é barato porque o lance é fazer com que o busão nunca esteja vazio, ele pára em toda cidadezinha e na estrada para recolher gente quando tem espaço vazio. E tem muito busão! Do povoado onde estávamos até Lima tinha ônibus de 15 em 15 minutos.
De volta ao meu fim de semana e à Lima, fui na festa do irmão da Madu, na casa do seu pai (seus pais são separados). Comemos um churrasco de linguiça e tomamos muito chopp de graça. Dançamos salsa e dança das cadeiras com o pai da madu e fizemos trenzinho. O pai dela é um grande sarro e um grande admirador da música e do cinema brasileiro. Nada que ver com a oração anterior, mas ali mais uma vez constatei que a quantidade de traços indígenas no rosto é indiretamente proporcional ao tamanho da conta bancária (ou do tamanho que querem aparenta ser).
Por fim domingo. Almoçamos eu, Gustavo, Ida e Bernardo (argentino) no festival de comida peruana que tem todo fim de semana perto de casa. Comida muy rica por não mais de 15 soles (uns 10 reais), comida que no Brasil não sairia por menos de 30 reais. Depois voltamos para casa fazer um bolo de cenoura e intercambiar música dos diversos países presentes. E a conclusão é que a música brasileira é do caralho! A maioria das coisas que me apresentavam era um rock, um ska ou um punk da argentina ou do peru ou da noruega, enquanto isso, para cada banda que eles tinham para mostrar a gente tinha um estilo de música! O Bernardo é apaixonado por chico e gil, para ele estão entre os cinco melhores músicos do mundo. E não é só a variedade de tipos, mas de temas de letras e de misturas entre estes tipos, estes temas, entre os instrumentos...para dar um exemplo: ficaram encantados com o violão do baden imitando um berimbau, com a percussão da banda de pífanos e por aí vai...
Durante nosso encontro eu ensinei umas coisinhas de teoria musical para Marco, um peruano bem gente fina que faz música na raça, ele tem umas várias composições, simples, mas são músicas próprias sem nem saber quais são as notas das cordas soltas! Mais uma vez me convenci que gosto de ensinar coisas para os outros, mesmo que as saiba mais ou menos.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Isso ae, policial também é humano e proletário

Hoje eu vi uma das melhores cenas da minha vida: um policial aqui de Lima calmamente escolhendo e comprando dvds numa banquinha de piratas para assistir na calma do lar...isso ae, viva a redistribuiçao de renda!
PS: agora eu entendo os celulares com câmeras

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Sanguíche com batatas

Haha, nao pude resistir! Vamos comer um SANGUÍCHE?Ou vamos comer umas batatas? Qual delas? (da direita para esquerda: batata perricholi, batata peruanita, batata huayro, empregado do supermercado, batata amarilla e batata canchan...tinha mais)
Ou comer um milhozinho?

Claro que eu tive que passar por gringo para fazer esta postagem!

Atualidades e urbanizaçao limenha


Atualizando para quem possa interessar. Esses dias compramos uma mesa por 70 sóis, 35 para cada e conseguimos, mudando a disposição do quarto, fazer cabê-la. Como na mesa cabem os dois agora nos segregamos no quarto e estamos nerds. O Gustavo estudando para escrever o seu projeto de mestrado e eu para minha iniciação.
Esses dias, depois de quase um mes com o ceu cinza tem feito um céu azul. Outra novidade é que ontem eu via a praia limenha pela primeira vez, de noite.
Também passamos na frente do restaurante dos gringos, onde se vendem vinhos de 4000 sóis e também onde o irmão da Madu trabalha 12 horas por dia, 6 vezes por semana e ganha 500 sóis, com as gorjetas não passa de 700. Exploração a parte fomos num distrito chamado Barranco onde descobrimos a mina de ouro...é cheio de bar. Fomos nos encontrar com a Ida, norueguesa que está fazendo intercâmbio na San Marcos, e seus amigos/as. Duas amigas que encontrou enquanto estava na Venezuela e três peruanos que foram seus professores de surf por um dia. Realmente o pessoal adora brasileiros. Também cheguei a conclusão de que os europeus tem uma visão romantizada da América Latina. E os que vem aqui passar um pouco mais de tempo que o necessário para visitar machu picchu se dizem socialistas. Eu fico imaginando como é ser socialista num país que a taxa de desemprego não passa de dois porcento e está entre os 5 melhores IDHs...nao deve rolar muito movimento social por lá.
Novidades contadas vou postar umas fotos e escrever um pouco, se o sono me deixar, de algumas peculiaridades da urbanizaçao de Lima.
A urbanizaçao em Lima é algo um pouco distinto do que estamos acostumados. A cidade é bem plana, isto é, tem pouquíssimos prédios e os que existem nao costumam passar de 10 andares. Nao consegui alguém que me dê um motivo razoável para isso, creio que é pelos terremotos. O que se sabe é que isso deixa a cidade maior em área para comportar o mesmo tanto que gente que uma cidade vertical como São Paulo necessitaria. Abaixo umas fotos (repare nas casas coladas, em quase todo lugar é assim, incluso em Miraflores, sao Isidro que sao bairros de bacana, mas nao tanto como os bacana mais isolados onde as casas tem piscinas e seguranças privados)

Abaixo um prédio grande

Outra coisa interessante é que aqui as calçada são maiores, as vezes com jardins ao lado de onde os pedestres andam. Pelo que eu vi até agora os jardins sao um peculiaridade dos bairros mais ricos, mas as calçadas grandes nao. A primeira pessoa em que pensei foi a Natalie e a primeira coisa foi um ciclovia. Mas nao adianta, aqui os carros mandam mesmo.
O trânsito aqui é selvagem principalmente por causa das combis e dos taxis. Analisando de forma simples temos que para melhorar seria preciso que os caras das combis ganhassem salário fixo e descente e que os taxis tirassem mais nas corridas. No primeiro caso ia mexer no bolso dos patrões, ou seja, deixa a ciclovia para lá; no segundo caso as pessoas precisariam ganhar mais para que o preço cobrado pelo taxista seja pagável, o que nos leva para o primeiro caso...vivam os jardins.
O que rola aqui também é que raramente existe uma faixa de estacionamento como existe no Brasil, nesse caso os carros estacionam na calçada mesmo.

Há outras diferenças quanto ao aproveitamento do espaço, aqui existem muitas pracinhas, aqui perto de casa tem uma a uns 20 metros, outras duas a uns quatro quarteiroes cada uma. E na frente de cada subprefeitura também tem uma, que em geral é maior do que estas perto de casa. No entanto me parece que o resquício da ditadura é forte, assim como o medo de assalto. As praças estao vazias.

Por fim o asfalto, que aqui nao é asfalto, mas nao tenho foto, providenciarei um. Aqui a rua é feita de cimentao mesmo com uns baita duns ferros para sustentar, ligar e nivelar um trecho da rua a outro (dado que eles vao encaixando blocos e deixando um espaço para dilataçao). Me parece bem mais inteleginte visto que dura bem mais. Mas no Brasil a economia nao pode parar, né! E os prefeitos geralmente sao amigos dos donos de construtoras, né!
Bom, apesar da dita urbanização o capital tem que se expandir, isso não é novidade para ninguém e, como diz o Thiago sobre o aproveitamento espacial: "vamo usa os 'eme' tres (metros cúbicos)". Pois é, agora é bem comum se ver isso:

domingo, 13 de abril de 2008

Era uma vez uma cerveja

Estou com um pouco de preguiça de escrever afinal é domingo, dia de jiboiar, como diz o ratão. Então vou tentar ser sucinto e falar um pouquinho como uma cerveja pode render história.
Outro dia, enquanto consultava uns livros vi uma garota que claramente não era peruana. Quando tentava resolver meus problemas na secretaria da biblioteca central ela se aproximou para tentar resolver os seus...é, ela nao é peruana. Logo ouvi o "lo" exercendo a função de artigo definido numa tentativa frustrada de falar espanhol. Pensei "brasileira, claro!", mas perguntei para checar.
Nacionalidade confirmada passamos um longo tempo co
nversando e dando risadas. Dentre as histórias que ela me contou estava:
Chego eu num bar, com uma puta vontade de tomar uma cerveja, peço uma mentalizando uma cerveja peruana e pá, vejam o que lhe serviram! (reparem no volume!)

Sexta-feira fui numa mesa sobre movimentos populares e universidade. Aquelas mesas bem movimento estudantil com análises de conjuntura bem superficiais, feitas individualmente, gente fazendo exposições prolongadas nos espaços de perguntas para mostrar como ele é um bom estudante de ciencias sociais (exalando dogmatismo) e por aí vai. Me valeu para saber que aqui, como ai, estas coisas tambem nao valem a penas a nao ser para saber como as lideranças estao pensando. E daí dá para saber quanto mais as bases vao continuar se fudendo. Bom, fora o uso bem genérico e desapropriado de termos como "povo", "movimentos sociais", "classe baixa", "classe média" para uma análise "classista"; o uso e reuso de argumentos de autoridade para uma análise marxista também fez coro com aqueles que fazem a análise simplista de um país como agente de exploraçao de uma classe e pôs o foco unicamente nos estados unidos. Acho que ir a um bar colocaria por terra tal argumentaçao (vide foto acima).


domingo, 6 de abril de 2008

Revista Caras e Fujimori

Sexta-feira estive pela primeira vez na Plaza de Armas aqui de Lima. A praça é linda, ampla, com uma bela fonte e lindas construçoes da época colonial. Nos seus arredores estao boulervars muito agradéis onde se pode caminhar, posar para um retrato, comer e comprar um celular. Sim é linda e parece que estamos em qualquer praça européia, sem exagero nenhum. Como tudo que é bonito e turístico aqui também é artificial: passeios em carroça em cavalos brancos para gringos; ausência de mendigos (provavelmente deve rolar operaçao Kassab -limpeza social- 24hrs por dia); segurança; artefatos da "cultura peruana" e por aí vai.
Tenho uma ou duas fotos de lá, porque estivemos num passeio rápido que a Universidade de San Marcos organizou para os intercambistas, o motivo principal era visitar a casona de San Marcos, a Plaza estava no caminho. Postarei fotos depois, quero agrupá-las junto com outras que tirarei. Quero mostra-lhes os portoes do palácio presidencial (que também fica na tal Plaza), que junto com dois caveiroes (carro blindado usado no Rio para invadir favelas e deixar corpos no chao) e muitos guardas com suas Ak-47 exalam um incrível clima de democracia.
Fui na referida Plaza também no sábado quando ia a um festival de música que relembrava os 16 anos do auto-golpe de Fujimori, quando este dissolveu o congresso. Comentário do festival depois. Passei na Plaza sem saber que ia passar por lá, nossa amiga Madu, dona da casa donde vivemos foi conosco e como peruana acabou nos guiando. Havia uma multidao, mas dado o decreto 982 e o fato que nao tinha ninguém morto no chao duvidei que fosse alguma manifestaçao reivindicatória. Policiais por toda parte, repórteres, gente bonita, bem vestida bem protegida pelos policiais da possível fúria de algum "louco" e do cheiro do povo. Enfim, descobri um provincianismo alucinado aqui no Peru. Era o casamento de um tenor que dizem que é o maior candidato à sucessao de Pavarotti. Pois é, policiais fazendo papel de segurança particular, vias públicas obstruídas, presidente na cerimônia e a Plaza cheia.
Enquanto isso no parque da Muralla o festival para relembrar o tal do auto-golpe, bater no fujimori e curtir música...vazio. Para uma cidade de 8 milhoes de habitantes ter cerca de 5 mil pessoas num festival deste, onde tocaram bandas famosas do Peru e de graça me pareceu loucura aquela situçao. A parte os vídeos bem conciliatórios que passavam nos intervalos das bandas e a última banda que me parecia bem tosca, com uma bailarina balançando os peitos como as nossas de axé, o festival foi bom, música boa e variada e bem organizado.
Fiquei de falar da mídia peruana, o pouco que conheci, mas que imagino seja tudo igual. Nao falei, mas é que este fato me fez relembrar as prateleira na beira dos caixas, que como no Brasil só tem Caras e cia, e ilustrar o papel decisivo que elas tem na sociedade. A ilusao de que vamos ser uma Europa é bem forte aqui, para nao falar na ilusao da possibilidade de ascensao social, individual e irreal.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Mais sobre as vans

Hoje bati a cabeça de novo por causa das vans, literamente e figurativamente.
O Joao levantou um ponto que nem me passou pela cabeça: o passe para idosos e para estudantes. Com a nao institucionalizaçao das coisas por lei as empresas cobram o que querem quando querem.
Depois descobri que fossa é mais funda e mais fedida. Aqui nao existe lei que obriga a passagem gratuita para os idosos e meio passe para estudantes. E voce pode ser morto numa boa manifestando contra isso! (ver trecho do decreto 982 dois posts abaixo)
Fazendo perguntas sobre as vans descobri que o motorista e o "cobrador" nao recebem salário fixo e sim comissao sobre o que ganharam no dia, agora entendi a procupaçao em conseguir mais passageiros, em parar em todo canto, em ser rápido na subida e na descida. Selvagem o capitalismo aqui hein! Nao deixam valer a lógica de foda-se o patrao.

Estigmas brasileiro

-Alemàn?
-No, brasileño
-Ah sì, futbol, Pelè, Ronaldinho!

Nao adianta, aqui eu sou europeu e brasileiro è sinônimo de futebol. O primeiro fato me surpreende um pouco, o segundo nao.
Durante a viagem percebi duas visoes predominantes do Brasil, a dos gringos, a qual se divide entre os que foram e os que nao foram para o Brasil e a visao dos peruanos que em geral tambèm se divide em duas: a dos universitàrios e a dos nao universitàrios.
Os gringos que foram ao Brasil voltam falando maravilhas da feijoada, da caipirinha, da àgua de coco, das havaianas, das mulheres, do cristo redentor e nada muito mais do que isso. Os que nao foram querem saber que lugares visitar se entram pelas cataratas ou o se entram pela amazônia, mas a impressao geral è que vao a um paìs em plena guerra civil sangrenta e tem certeza que tem que ir ao rio de janeiro, poucas opinioes divergentes e pouca novidade para nós. Vamos aos peruanos.
Creio nao ter vivido o suficiente para falar do que os peruanos pensam do Brasil, mas em geral nao têm nenhuma grande opiniao, è como perguntar a um brasileiro o que pensa do Peru...mal sabe qual è a capital do paìs, quem o diga o presidente. A alienaçao é tao forte aqui quanto aì, no pròximo post acho que vai uma breve impressao da tv. Bom, mas temos alguns estigmas que sao basicamente culturais e acreditem, nao è o samba, nem a bossa, nem mesmo as novelas (muito populares aqui), mas o axé! Eu jamais esperaria que as pessoas daqui tinham sido criadas ouvindo o cumpadi Washington cantar e vendo a Carla Perez dançar! Como a indùstria fonogràfica é como qualquer outra e a alienaçao nao pára e muito menos a cultura machista, aqui o funk enterrou o axé.
Dentro do cìrculo universitário a situaçao é mais "cult" (com os mesmos "oclinhos" de borda grossa). As pessoas conhecem, além das novelas, do futebol e do axè, o samba e a bossa, dificilmente o choro. Mas pouco sabem sobre a situaçao política e social do Brasil, sobre isso alguns episódios:
Hoje um aluno de segundo ano de engenharía me perguntou porque eu vim para o Peru já que no Brasil se investe muito mais no ensino superior. Também existe a ilusao de que este investimento é extendido à educaçao como um todo. Realmente, conheço as instalaçoes de poucas universidades no Brasil, mas em todas essas as instalaçoes e os recursos me pareciam melhor que aqui, ou seja, "us cara" tao na merda.
Outra impressao "má o meno" comum é de que o Lula oferece "avanços" sociais ao Brasil, seja lá o que isso signifique. Foi aí que entendi (ou pensei que) a tal "polìtica externa mais progressista" do Lula em relaçao ao FHC. Por exemplo o posicionamento do Itamaraty em relaçao a invasao do territòrio Equatoriano pela Colômbia, que foi de condenar ao invés de ficar na moita e dizer que algo deve ser feito para combater o "narcotráfico". Na realidade nao tenho muitos dados para defender tal tese, mas me parece um mecanismo para criar a ilusao de melhor com Lula e que ele é um líder a seguir, afinal ter origem proletária nao quer dizer que nao pode fazer umas reforminhas aqui, uma privatizaçaozinha alí...
Enfim, é apenas um impressao. Nao tive oportunidade de conhecer um nao universitário que nao conhecesse o Brasil através do Real Madri ou do Inter de Milao. Mas uma coisa é certa: o tratamento muda quando ficam sabendo que é brasileiro, sao muito mais receptivos que com os gringos...e todos pensam que também somos.

Takeopariu!

Dêem uma olhada no seguinte decreto abaixo, ele nao està inteiro, mas è o modelo PSDB de governança e combate ao crime; porrada!
Repara que na modificaçao do artigo 29 ele DECRETA a prisao perpètua e na anterior a de morte!

PODER EJECUTIVO
DECRETOS LEGISLATIVOS
DECRETO LEGISLATIVO
N° 982
EL PRESIDENTE DE LA REPÚBLICA
POR CUANTO:
El Congreso de la República por Ley Nº 29009, ha delegado
en el Poder Ejecutivo la facultad de legislar en materia de tráfi co
ilícito de drogas, lavado de activos, terrorismo, secuestro,
extorsión, trata de personas, crimen organizado y pandillaje
pernicioso, por un plazo de 60 días hábiles; y, en el marco
de la delegación legislativa, el Poder Ejecutivo está facultado
para establecer una estrategia integral dirigida a combatir con
mayor efi cacia el crimen organizado en general y, en especial
los delitos mencionados;
Con el voto aprobatorio del Consejo de Ministros; y,
Con cargo a dar cuenta al Congreso de la República;
Ha dado el Decreto Legislativo siguiente:
DECRETO LEGISLATIVO QUE MODIFICA
EL CÓDIGO PENAL, APROBADO POR
DECRETO LEGISLATIVO Nº 635
ARTÍCULO 1°.- Modifícase los artículos 2°, 20º,
29°, 46°-A, 57°, 102° y 105º del Libro Primero (Parte
General) del Código Penal, aprobado mediante Decreto
Legislativo N° 635, en los términos siguientes:
“Artículo 2º.- Principio de Extraterritorialidad,
Principio Real o de Defensa y Principio de Personalidad
Activa y Pasiva
La Ley Penal peruana se aplica a todo delito cometido
en el extranjero, cuando:
1. El agente es funcionario o servidor público en
desempeño de su cargo;
2. Atenta contra la seguridad o la tranquilidad pública
o se traten de conductas tipifi cadas como lavado de
activos, siempre que produzcan sus efectos en el
territorio de la República;
3. Agravia al Estado y la defensa nacional; a los
Poderes del Estado y el orden constitucional o al
orden monetario;
4. Es perpetrado contra peruano o por peruano y el delito
esté previsto como susceptible de extradición según
la Ley peruana, siempre que sea punible también en
el Estado en que se cometió y el agente ingresa de
cualquier manera al territorio de la República;
5. El Perú está obligado a reprimir conforme a tratados
internacionales.”
“Artículo 20º.- Inimputabilidad
Está exento de responsabilidad penal:
(...)
11. El personal de las Fuerzas Armadas y de la Policía
Nacional, que en el cumplimiento de su deber y en
uso de sus armas en forma reglamentaria, cause
lesiones o muerte”:
“Artículo 29º.- Duración de la pena privativa de
libertad
La pena privativa de libertad puede ser temporal o de
cadena perpetua. En el primer caso, tendrá una duración
mínima de dos días y una máxima de treinta y cinco
años”.

domingo, 30 de março de 2008

Layout Gringo

Depois de fazer a ùltima postagem fiquei alguns segundos olhando para o meu blog e reparei que ele està com um layout estilo selva-machu-picchu. Bem o pensamento gringo sobre aqui, algumas belezas turìsticas, macacos subindo nos telhados das casas nas àrvores e cobras te picando na rua...Ai ai, na Itàlia nos perguntaram absurdos assim nao deixando de perguntar se a capital do Brasil è a Argentina...sim a Argentina!

Chino x Money

Tenho muitos assuntos pendentes: o transito, a privataria universitària, as compras em Lima, a festinha dos intercambistas da San Marcos, a tv peruana, e outros...mas vou aproveitar este tempo em que minhas roupas estao de molho e, a pedidos, explicar a tomada de "busoes" aqui em Lima (porque nas estradas è outro assunto pendende) e puxar minha aparencia de gringo por nao ter olhos puxados. Aviso aqui tambèm que pretendo diminuir a frequencia de postagens porque daqui um mes vou estar postando sobre a percepçao artìsticas das pessoas que tomam a van em-62b quanto as falhas nas faixas amarelas da avenida La Mar. E para falar de Unicamp deixo que alguèm aì fale.
Aqui se toma busoes, que na maioria das vezes nao sao busoes, sao vans, em qualquer lugar. Sim, tirando nos bairros mais ricos, aqui nao existem pontos de onibus, atè existem, mas è mera formalidade. Assim como os pontos de onibus as tarifas nos adesivos tambèm sao para ingles ver, nao sò para ingles, mas para qualquer idiota que como eu nao conhece o Peru. Teoricamente existem umas 15 tarifas que nao sei todas, mas tem urbano, metropolitano, universitario, idoso, pre-natal e por aì vai. Mas na pràtica sò existem duas: 1 sol e "un chino".
Aqui è demais, porque existem coisas institucionalizadas pela lei e existem coisas institucionalizadas pelo povo, pela praticidade, algo assim democràtico. Desenvolvendo:
1 chino= espècie de uma carona para trechos curtos, voce paga 50 centavos de sol e o cara nao te dà a passagem mas te leva no canto que voce quer
1 sol=passagem convencional, chamado aqui de P(S), tal que P(S)=1 ∀∆S> ∆Schino
Deixando a masturbaçao matemàtica, temos que se aponta o dedo na rua e a van para como se fosse um taxi e faz de tudo para parar, o que è causa consideràvel da loucura que è o trânsito limenho. Como as combis, vans ou como se queira chamar vivem com pressa o cara pàra e fala: "entra, entra" ou "sobe, sobe". Voce mal entra e ela parte te fazendo bater a cabeça se nao tem lugar na frente e se ela tiver teto baixo. 4 vezes por semana eu enfio a cabeça no teto. Subo ràpido e para que nao percebam meu "espanhol" digo: "chino San Marcos", entrego 50 centavos e olho para a janela com cara de quem sabe o que faz.
Mas isso sò quando estou na Plaza San Miguel, onde faço compras, como porcaria de vez em quando e resolvo pepinos de banco, celular e assuntos diversos. De onde moro atè a universidade è um sol mesmo. Porèm, como sempre tenho que fazer compras porque atè agora nao encontrei galoes de 20 litros de àgua e a àgua da torneira nao è nem um pouco recomendàvel (segundo os limeños) pego uma van da universidade atè a plaza e da plaza atè em casa pagando o mesmo 1 sol que pagaria se fosse direto.
Ah...o "bajo bajo, baja baja" è o seguinte: eu falo "bajo bajo" indicando que vou sair, o cara que abre e fecha a porta da van pede para o motorista parar dizendo "baja baja" e me diz "baja baja".
Apesar da loucura que as vans podem representar no transito elas sao responsàvel por deixà-lo dinâmico e o transporte pùblico ser eficiente. Como elas sao baratas, tem muitas e fazem desde caminhos curtos atè longos elas capilarizam o transporte e voce pode sair de Barao e chegar na Francisco Glicèrio sem precisar ir atè o DIC como fazem alguns busoes de Campinas e pagando um preço em conta. Alèm do mais passa um combi a cada 20 segundos onde eu moro, claro que nem todas vao onde quero, mas eu dificilmente levo mais de 2 minutos esperando uma para ir para a faculdade. Nas avenidas mais movimentadas como a Sucre, Venezuela, Universitària e cia você nao passa 2 segundos sem que um passe na sua frente e isso nao è exagero!
Sobre a questao da "institucionalizaçao pràtica" das coisas, pode ser bom, mas para mim as vezes è uma merda. Como nao tenho a menor cara de quem è daqui e quando abro a boca fodiveiz as pessoas querem te cobrar mais no busao, no taxi, na àgua que para estrangeiro è mais cara quando gelada e por aì vai. Nao adianta, eu nao passo por peruano! Eu mal passo por brasileiro! Atè agora apenas um cara que resolveu dar palpite sobre minha nacionalidade nao me chamou de europeu e acertou dizendo que era do Brasil. Ontem um mendigo veio em minha direçao dizendo: "money, money"...
PS: fotos e vìdeos das vans estao por vir

sábado, 29 de março de 2008

Tremor de poesias

Li o blog do Jeff, me deu vontade de escrever poesias. Era pèssimo nisso quando no ginàsio/colegial. Mas que escreveria:

Entra, entra
um chino San Marcos,
entra 1, sai 50
bajo, bajo
baja, baja

Continua ruim e sò serve para quem è daqui! Entao preferi ficar no càreter informativo. Os "versos" acima sao sobre o tomar de busoes, que aqui sao umas espècies de vans, vou ficar devendo descriçoes porque hoje a Terra tremeu.
Ontem de noite escutei um barulho, estava saindo do banho. Gustavo pensou que fosse um caminhao pesado passando na rua, mas nao, quando sai do banho estavam as pessoas um pouco assustadas, foi um sismo. Tudo bem, nem senti, mas o mais divertido foi de manha.
Agora sim, a terra tremeu de verdade por cerca de 10 segundos, apesar do susto porque acordei com isso e vi as pessoas correndo para fora de casa como se fosse rolar um terremoto de verdade, foi emocianante e atè divertido passar por isso pela primeira vez! No epicentro, deu 4,3 Richter, uns 80km daqui.
Hoje almoçamos num lugar seguro em casos de abalos sìsmicos:

Vou postar umas fotos de um almoço passado neste lugar porque hoje nao tiramos fotos (8 sòis primeiro prato segundo prato e suco!), falta foto do primeiro, mas aì, o meu prato e braço do lado esquerdo, no centro o do Gustavo.






Outra foto deste almoço

Ah...ontem comecei a ler Thomas Kuhn.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Melhor Nao!

Antes de vir para o Peru li algumas coisas e recomendaçoes. Em varios lugares diziam que se voce està acostumado com Sao Paulo voce vai se sentir em casa quanto à criminalidade Em alguns outros dizia que era melhor voce se preocupar mais com o transito louco de Lima do que com os assaltantes...verdade.
O transito de Lima merece um post a parte com video e fotos, hoje sò quero dizer que depois de ver uma batida feia, vi duas pessoas atropeladas, uma sem braço! Desisti de comprar um a bike.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Tanto cà como là - A academia

"Se vi mais longe que os outros homens, foi por estar de pé nos ombros de gigantes", disse Newton, mas meu professor de eletromagnetismo, aqui conhecido como teoria de campos eletromagnèticos, nao ficou sabendo. Tambèm nao soube que ele tinha um tio reverendo diplomado em Cambridge chamado William Ayscough; tampouco lhe disseram que ele estudou no Trinity College (por insistência de seu tio à sua mae); penso tambèm que ele nao leu que seu padrasto era bacharel em Oxford, muito menos que o perìodo em que Newton formulou sua teoria da gravitaçao, parte do càlculo, teoria da natureza das cores foi durante os dois anos que passou na fazenda da famìlia, refugiado da peste. Sempre digo: "com certeza nao era ele que limpava a bosta dos cavalos".
Quando soube que este mesmo professor mentiu sobre a infancia de newton, sobre sua condiçao financeira, sobre a idade com qual formulou o seu binomio refleti atè que ponto o sujeito nao ficou sabendo, nao lhe disseram ou nao leu aquelas informaçoes para nos passar a ìdeia do gênio que Deus nos presenteou. Nao sò nos presenteou como presenteou a Newton, segundo meu professor "os mortais pensam a uma velocidade de 1, os gênios de 100" (tipo velocidade de gravaçao de dvd), nao sò isso, "eles tem uma percepçao diferente da realidade e enxergam a verdade". Quantos homens e quantos gênios (grupos distintos segundo a lògica de tal educador) nao se perderam na verdade, imersos nos campos, gravitacionais e eletromagneticos, "que nao vemos, mas estao aì, existem".
E que fantàstica è a ciência postulatòria de Maxwell, a verdade matemàtica que nao vemos, noa sentimos, mas està aì. Joao Paulo me disse "è a lògica para muita coisa, como os terroristas!"
Nao saber diferenciar o fato da interpretaçao e do modelamento escolhido nao è uma proeza sò dos humanòides, mas da academia, onde o pensamento "flui autonomamente, independente e libertàrio", como as linhas de campo.

terça-feira, 25 de março de 2008

Na Bolívia

Na verdade este post é para continuar a sequencia de fotos do anterior e a sequencia da viagem, agora na Bolívia.
Acordamos cedo depois de finalmente dormir direito visto que há duas noites dormíamos no busao, chegamos na fronteira no final da manha. Lá descobrimos que se saíssemos do Peru perderíamos nossos vistos de estudante. Entao escondemos os passaportes e entramos na Bolívia com as carteiras de motorista e ignoramos a imigracao Peruana na entrada e na saída do Peru. É como se nunca tivéssemos saído. Tivemos outros imprevistos como reservar passagens mas chegando na rodoviária só tinha um lugar, o que nos fez revezar no lugar de co-piloto. Lugar este capaz de gerar fortes emocoes nas ultrapassagens. Depois chegaram duas gringas para ir até Copacabana (nosso destino e cidade extremamente turística de onde saem os barcos para a ilha do sol), as gringas foram mal acomodadas, uma atrás do motorista e outra na escada. Nao bastasse isso o busao quebrou por falta de fluido de embreagem (acompanhei de camarote)...pelo menos tinha o de freio...é bom para dar um choque nos gringos acostumados com pontualidade e servicos de qualidade.
Do mais esta parte da Bolívia só muda a moeda e nem isso visto que se paga com sóis em Copacabana e com Bolivianos em Puno. As roupas sao iguais, as formas de cultivo e as linguas também (na verdade no norte se fala quechua e aymara, no sul prioritariamente a segunda). Mas as paisagens no sul do Titicaca sao mais bonitas:

Quem ve pensa que é o Brasil, mas a mais de 3000 metros de altura, um frio de rachar


Unidade de deseducacao no norte da ilha do sol

Já perdi a crase neste teclado. A esquerda um italiano que morou 2 anos na espanha e por isso falava um perfeito espanhol com sotaque italiano (emendado, alto e com as maos), gente boa, mas perdeu meu respeito quando disse que 50 bolivianos nao era nada para ele (1 euro sao 11 bolivianos) e logo depois brigou com uma mulher que queria cobrar-lhe 35 bolivianos por um quarto de albergue com banheiro compartido; mais ao lado umas simpáticas e bonitas chicas argentinas; eu e Tom, um judeu israelense que viveu um ano na amazonia brasileira e hoje é adepto do mais puro Daime, com certeza uma das pessoas mais interessantes da viagem.


Puta visu: Titicaca, pedaco da ilha do sol, os Andes e a lua no fundo, merece outra:

Abaixo as terrezas, centenárias e ainda muito funcionais, encontram-se na ilha toda, no canion do colca e onde mais for íngreme



¿Donde está?

Depois de quebrar a seqüência de tìtulos comecando (estou em outro computador, sem cedilha)por artigos definidos masculinos no post passado, vou quebrar a seqüência de relatos limeños.
Durante minha viagem estilo mochileiro europeu-vem-volta-e-que-se-foda-a-americadosul, uma coisa me chamava atencao quando frequentava cidadezinha pequenas: onde està a exploracao capitalista? Digo isso porque via as pessoas com seus pequenos lotes de terra, com suas ovelhinhas, com suas casinhas, pobres e pequenas, mas tinhas casas e terras, a parte isso tinham roupas quentinhas e dinheiro para pagar a locomocao (extremamente barata para os padroes brasileiros); nao pareciam morrer de frio na calcada da paulista.
Foi num albergue que paguei 8 sòis (mais ou menos 5 reais) que fui entender: estava esperando grandes empresas, resorts, marcas e slogans; esses sò se concretizavam com a onipresente deusa coca-cola e marcas que aqui dominam a comunicacao movel, claro e movistar (se diz muvistar). Mas nao, no interior do Peru o capitalismo ainda parece estar com as garras retraìdas. A expropriacao do trabalho ainda è primitiva, muitas vezes familiar, uma sobrinha trabalhando no albergue da tia.
Surge aì uma pergunta ou vàrias perguntas de mesmo teor: com tantos europeus aproveitando os precos e as paisagens, brigando e maltratando as pessoas daqui por causa de 5 sois (1 euro!), como è que ainda nao hà um resort na ilha do sol (lago titicaca), ou passeios de helicòptero no canion do colca?
Na ilha do sol (lado boliviano do lago titicaca) onde, apesar das ruìnas incas, os habitantes sao da etnia aymara tive uma ponta de resposta. Conversando com um guia local, que cuidava das ruìnas do lado sul da ilha por um mes fui entender um pouco. Ele era um professor de història na escola de primeiro grau e assim como todos os habitantes da ilha ele tinha que ficar por um mês, oficialmente licenciado do seu trabalho, para ficar là. Assim como outros guias ele tambèm parecia querer tirar ¨una plata¨ a mais com os turistas, mas assim como os donos de albergues na ilha ele tinha um pertencimento à comunidade e às tradicoes de là, digamos, tinha sua plantacaozinha de quinua e outras plantas nativas nas suas ¨terrazas¨. Tambèm consegui identificar um certo rechaco às companhias de turismo que instalam restaurantes na ilha (poucos sao destas empresas, mas existem) e as companhias que dominavam o transporte de Copacabana à ilha, visto que os locais nao tinham dinheiro para adquirir barcos. Enfim, alì parece haver uma certa uniao da comunidade, assim como em cabanaconde. Nao sei ao certo como se dà nem quais os motivos que levaram a esta ¨unidade¨, mas nao vejo outro outra justificativa para nao haver um condominio estilo laranjeiras (praia proxima a do sono) nestes lugares num perìodo de crise do capital, se alguem souber me diga.
Sendo explorados por uma forte colonizacao europeia fervorosamente catolica hà 500 anos, nao posso esperar que estas comunidades e estes lugares estejam preservadas pela bondade espontânea dos donos do mundo.

Aproveitando que estou falando da viagem vou postar algumas fotos:

Cemiterio Chauchilla em Nazca. Esse cara, Carlos era taxista e nosso guia, alguèm conhece um taxista no Brasil que è guia?

Os povos nazca mumificavam seus mortos e os posicionavam como fetos voltados para o leste, como se fossem nascer de novo voltados para o sol. Tambèm temos fotos das linhas de nazca, de cima de um teco-teco, mas nao quero lembrar destes momentos em que eu e o Gustavo passamos mal. Aliàs me achei uma franga na viagem, tive ensolacao, fiquei uns 4 dias com o intestino solto, labios arrebentados, fora o aviao.


Em Arequipa, no monasterio de Santa Catalina, crucificado, detalhe que quem tirou a foto foi um espanhol que veio aqui pagar a divida de seu pais fazendo trampos comunitarios com doentes de aids em Iquitos, nao sei se resolve...






Jantar por 12 sòis na varanda na principal praca de Arequipa, a Plaza de Armas! Com direito a primeiro, segundo prato e suco! Esse aì na foto è um australiano que estava a um ano viajando, tinha sò mais uma semanas e voltava a trabalhar. Voamos com ele em Nazca, encontramo-o na rua em Arequipa, depois no canion do colca, depois em Chivay no mesmo busao e depois em Arequipa, de novo, quando pegavamos o taxi para ir para Puno.




Triste heranca colonial, tem cruz em todo lugar aqui! O sincretismo religioso aqui è espetacular, ainda mais na semana santa! Bandas marciais tocando, o povo cantando oracoes catolicas e quechua com roupas tipicas daqui.








Como disse, cara com as ovelhinhas em cabanaconde









Quantas papas(batatas)! No Canion do Colca














Condor voando no Canion do Colca, nao è a toa que os gringos nao querem saber mais de nada.












Nascer do sol no titicaca, Puno









Fala sèrio, no meio de uma ilha flutuante no titicaca!













Tomando uma sopinha de quinua no titicaca, fechando com um chà de coca, 4 sòis...










Indo para Bolìvia, repara que nesta van, extremamente utilizada nas redondezas. O pessoal leva tudo em cima, no caso, tinha dois carneiros vivos em cima...repare bem.






segunda-feira, 24 de março de 2008

Tanto là como cà

Hoje comecei o dia cedo, 7 da manha! Takeopariu! Acho que o Gustavo deve estar me achando um mentiroso quanto aos meus hàbitos noturnos.

Tirando tal diferença, observei, mais do que isso, senti certas semelhanças com o Brasil. Fomos ao banco e enfrentamos a camaradagem dos segurancas, um fila de uns 30 minutos enquanto o banco nao abria. Apòs isso fomos à Santa Ifigênia de Lima, uma tal de compuplaza: vendedores te atacando, redistribuiçao de renda (pirataria) rolando numa boa e eletrodomèsticos baratos. Nao bastasse isso para matar a saudade de casa as aulas começaram, como ficamos atè mais tarde na tal da compuplaza tivemos que pegar um tàxi. Aqui o taxi se negocia, nao existe taximetro, entao a hora que voce enfia a cara na janela com aquele jeito de gringo e solta um portuñol brabo o cara enfia a bandeira dois, no caso a faca. Diferentemente dos taxistas brasileiros que rodeiam quando voce nao è da cidade, aqui quando sempre te fazem de trouxa, sò se perde dinheiro, nao tempo...mas te fazem de trouxa.

Por fim as aulas...engenheiros jogando magic, muitos homens, piadas machistas e todo mundo com a impressao de que havia um et na sala, apesar disso ninguem me dirigiu a palavra. E os professores daqui gorjeiam como os daì, vomitam a matèria igualzinho e fazem perguntas para as paredes.


A pedidos fotos do meu ninho.








domingo, 23 de março de 2008

O Marco

Ontem voltei de viagem, fiz um roteiro bem turìstico mas foi muito bom e muito barato, mas a viagem eu conto depois. Primeiro vou contar da minha matrìcula.
Dia 12 de março, vou com antecedência na universidade, visto que a matrìcula era somente dia 13 e percebi no "jefe de matrìcula" um cara de "que merda eu faço com você!" Percebendo que teria que voltar dia seguinte aproveitei para ver as ementas detalhadas da matèrias que aqui tem o nome de syllabos, oxalà sabe porque, e ver os horàrios das mesmas. Aqui nao existe um www.dac.unicamp.br e as pessoas tem que ver as matèrias que vao ter disponìveis no mural; atè eu entender como funcionava os ciclos, grupos, etc demorou um pouquinho e descobri que aqui eles estudam mais matèrias de humanas que aì, vou fazer duas, espero que uma delas me ajude na minha iniciaçao, chama epistemologia.
Voltemos ao principal. Fui a oficina de cooperaçao e relaçoes interinstitucionais e quase nao me deixaram entrar porque estava de bermuda...fala sèrio! Chegando là falei com a atenciosa Verônica e descobri o motivo da cara do referido "jefe": sou o primeiro estudante de intercâmbio de engenharia! Atè agora estou pensando se isso è bom ou ruim, estou incerto das vantagens da virgindade. Que seja, acho que consegui fazer a matrìcula, amanha começam as aulas e vou conferir isto.
Ah...a minha visita a reitoria me fez confirmar o que jà tinha percebido: apesar daqui ser mais pobre è menos desigual, abaixo o motivo:
Banheiro da reitoria!
Abaixo a placa da minha faculdade, percebam o degradê entre o pùblico e o privado (em cima o sìmbolo da universidade)

Por ùltimo, reduzindo o zoom: