domingo, 6 de abril de 2008

Revista Caras e Fujimori

Sexta-feira estive pela primeira vez na Plaza de Armas aqui de Lima. A praça é linda, ampla, com uma bela fonte e lindas construçoes da época colonial. Nos seus arredores estao boulervars muito agradéis onde se pode caminhar, posar para um retrato, comer e comprar um celular. Sim é linda e parece que estamos em qualquer praça européia, sem exagero nenhum. Como tudo que é bonito e turístico aqui também é artificial: passeios em carroça em cavalos brancos para gringos; ausência de mendigos (provavelmente deve rolar operaçao Kassab -limpeza social- 24hrs por dia); segurança; artefatos da "cultura peruana" e por aí vai.
Tenho uma ou duas fotos de lá, porque estivemos num passeio rápido que a Universidade de San Marcos organizou para os intercambistas, o motivo principal era visitar a casona de San Marcos, a Plaza estava no caminho. Postarei fotos depois, quero agrupá-las junto com outras que tirarei. Quero mostra-lhes os portoes do palácio presidencial (que também fica na tal Plaza), que junto com dois caveiroes (carro blindado usado no Rio para invadir favelas e deixar corpos no chao) e muitos guardas com suas Ak-47 exalam um incrível clima de democracia.
Fui na referida Plaza também no sábado quando ia a um festival de música que relembrava os 16 anos do auto-golpe de Fujimori, quando este dissolveu o congresso. Comentário do festival depois. Passei na Plaza sem saber que ia passar por lá, nossa amiga Madu, dona da casa donde vivemos foi conosco e como peruana acabou nos guiando. Havia uma multidao, mas dado o decreto 982 e o fato que nao tinha ninguém morto no chao duvidei que fosse alguma manifestaçao reivindicatória. Policiais por toda parte, repórteres, gente bonita, bem vestida bem protegida pelos policiais da possível fúria de algum "louco" e do cheiro do povo. Enfim, descobri um provincianismo alucinado aqui no Peru. Era o casamento de um tenor que dizem que é o maior candidato à sucessao de Pavarotti. Pois é, policiais fazendo papel de segurança particular, vias públicas obstruídas, presidente na cerimônia e a Plaza cheia.
Enquanto isso no parque da Muralla o festival para relembrar o tal do auto-golpe, bater no fujimori e curtir música...vazio. Para uma cidade de 8 milhoes de habitantes ter cerca de 5 mil pessoas num festival deste, onde tocaram bandas famosas do Peru e de graça me pareceu loucura aquela situçao. A parte os vídeos bem conciliatórios que passavam nos intervalos das bandas e a última banda que me parecia bem tosca, com uma bailarina balançando os peitos como as nossas de axé, o festival foi bom, música boa e variada e bem organizado.
Fiquei de falar da mídia peruana, o pouco que conheci, mas que imagino seja tudo igual. Nao falei, mas é que este fato me fez relembrar as prateleira na beira dos caixas, que como no Brasil só tem Caras e cia, e ilustrar o papel decisivo que elas tem na sociedade. A ilusao de que vamos ser uma Europa é bem forte aqui, para nao falar na ilusao da possibilidade de ascensao social, individual e irreal.

Um comentário:

Anônimo disse...

Che, por aqui nao é muito diferente.
Marco foi o mes da memoria dos desaparecidos na ditadura.
Foram quase 30 mil estudantes mortos, quase todos em Buenos Aires e La Plata.
Moro com uma menina cujos pais foram presos e torturados durante esta época.
Essa regiao ainda vive essa dor. Quer dizer, algumas pessoas.
E fazem questao de nao se deixar esquecer. Hoje tenho minhas duvidas sobre qual a grande vantagem em seguir trazendo para o presente aquele passado, da maneira com que é feita, nos lugares onde é feito.
A cabeza está muito lá, e pouco cá!