terça-feira, 20 de maio de 2008

A música ou o monóxido, eis a questão?

Das sete artes com certeza a que mais gosto é a música. Ontem fui num bar que toca um jazz violento e não se paga couvert. Convenci-me mais ainda da primeira oração deste post. Viva o pandeiro, o trompete, o violão, a voz e tudo mais que permite ao ser humano fazer poesia cantada, com ou sem canto.
Em segundo lugar está a sétima arte (estou me apaixonando pelo sete). Hoje assisti um filme do eisenstein (que não é o encouraçado potenkim), ele manda muito bem.
Enfim, dias atrás estava difamando Lima por ser uma cidade grande, ter todos os problemas de uma metrópole sul-americana e pouquíssimas vantagens que tal tamanho pode oferecer. Estou mudado de opinião. 
Às vezes o conservadorismo da cidade, inalado junto com o abundante monóxido de carbono me faz voltar a primeira idéia. Mas venho melhorando a imagem de Lima, pois ando descobrindo coisas como esse bar, como um centro cultural que tem atividades gratuitas todos os dias, o cinematógrafo, a videoteca da puc e coisas do gênero, além de já estar familiarizado com o louquíssimo transporte "público" de Lima.
Este post vai terminando aqui, inversamente proporcional ao tamanho da minha preguiça.
PS.: a roubo da minha câmera contribui para a recente ausência de fotos.
PS2.: Continuo pensando que nunca moraria em Lima, tampouco em Sao Paulo.

domingo, 11 de maio de 2008

Um país que não lê

Contarei aqui alguns casos da minha experiência e da de outros com livros:
1 - A primeira impressão que me deu ao entrar na biblioteca da puc e depois nas da San Marcos foi: "que porcaria!" Não pelo quanto ou quais livros tinha, mas pelo fato de serem fechadas. Isto é você não pode simplesmente dar uma passeada pelas estantes e se deparar com um livro que te pareça interessante. Além do mais necessita que alguém esteja lá e pegue o livro para você, o que deixa o processo de emprestar livro bastante mais lento. Na biblioteca central, mesmo tendo o código, você necessita entrar em um dos computadores do primeiro piso (nem sempre tem disponível para todos), procurar o livro de novo num sistema de procura um pouco burro, inserir seus dados e fazer o pedido. Feito isso você vai até o lugar onde está (primeiro ou segundo piso) e torça que não tenha muita gente na fila e que os atendentes estejam com boa vontade.
Após a primeira vez que fiz isso eu vi que o buraco é bem pior: na biblioteca central daqui não se emprestam livros para levar para casa, apenas para consulta na biblioteca! Tem uma máquina de xerox do lado de onde se recebem os livros e se você precise de uma parte ou de todo o livro pede para copiar. Isso para mim é um grande desestímulo à leitura causada pela falta de livro, fruto do sucateamento explícito e visível na San Marcos.
2 - Fui na biblioteca da Faculdade de Eletrônica emprestar um livro (lá se leva para casa, mas só por três dias) e pedi para ver o catálogo e resultou no seguinte diálogo:
- Quer livro de que?
- Quero ver o catálogo
- Sim, mas quer livro de que?
- Quero ver quais livros de eletromagnetismo tem aqui
Ele virou as costas, pegou um livro de eletromag do David Cheng (utilizado por alguns professores na elétrica da unicamp) traduzido e reduzido em espanhol e me disse: "aqui usamos este livro". Enquanto eu olhava pacientemente para cima e contava até dez como minha mãe me ensinou chegou um outro cara e pediu: "livro de dispo (dispositivos eletrônicos)" e recebeu um livro específico sem nem ter mencionado o autor. Entendi a situação, me resignei e fui tirar xerox porque ainda não podia fazer "empréstimos externos" (problema já resolvido e que não vale muito a pena contar).
3 - Lembro-me do meu irmão lendo o stewart (livro de cálculo usado pelos engenheiros da unicamp) e dizendo: "que bosta de livro de engenheiro sem rigor! Tipo 'aprende aí, aprende aí'". Pois é, conversando com um cara aqui da elétrica ele me disse que esses livros são para quem quer se aprofundar. Explicando: geralmente eles usam livros de um professor de matemática da UNI (Universidade Nacional de Engenharia), um tal Espinoza que ganha uma puta grana fazendo livros de matemática superior tudo mastigadinho e claramente com o intuito operacional, sem nenhuma demonstração, pouco rigor e com muito exercício. O pior de tudo é que, como pouquíssima gente aqui sabe inglês, muitas vezes sobra para os físicos usarem esses livros também!
4 - A língua é outro grande gargalo aqui e em todo lugar, incluso no Brasil, mas aqui a coisa me parece pior. Na unicamp muitos cursos têm em seus catálogos a obrigatoriedade de cursar línguas oferecidas, bem ou mal, pela própria universidade. Aqui isso não existe. E geralmente, na San Marcos, poucos ingressantes sabem outra língua, costumam começar seus estudos de línguas na faculdade. E não são só os estudantes...um professor da já citada Ida, pediu-a para traduzir um texto em inglês porque ele não sabia ler em tal idioma, mas tinha a referência de tal texto. Bom, não necessito explicar a consequência de tal fato
5 - Numa aula de epistemologia o professor perguntou para alguns alunos quantos livros tinham lido nos últimos 4 anos e haviam respostas absurdas como 6, 4, 3. Não imagino que a média de leitura dos engenheiros no Brasil seja alta e também não estou afirmando que a população brasileira seja uma assídua leitora, só quero afirmar que aqui é um país em que se lê menos que no Brasil.
6 - Por mais nojentas que sejam essas grandes livrarias (e os livros que aí se vendem) que se encontra em todo shopping no Brasil, elas existem e no pior dos casos você pode encomendar livros, incluso por internet. Aqui não existe isso. As livrarias (que na verdade são tendinhas de livros como uma feira) em Lima ficam concentradas em dois pontos: Quilca e Amazonas. No primeiro lugar eu fui e não tive uma boa experiência, no segundo estou por ir.
Em Quilca se encontram bastante livros de literatura peruana, clássicos da literatura mundial como Gabriel Gracía Marquez, Cervantes, Shakespeare e da filosofia como aristóteles, kant, pouco marx e muito manual de exatas e livros de auto-ajuda. Os livros são baratos, alguns usados outros novos, mas se você procura algo mais específico, como era meu caso, pode esquecer. Passei mais de três horas lá e não achei nenhum dos dois livros que procurava, um do Thomas Kuhn e outro do Jorge Lora Cam.
O pior é que não tem onde pedir, não encontro sebos, pois estes também são sebos. Um destes livros tinha na biblioteca da San Marcos, tirei xerox, o outro estou por encontrar.
7 - Diferente do que costuma acontecer de vez em quando no Brasil, aqui nunca vi ninguém ler livros enquanto espera numa fila, enquanto está num busão ou coisa do gênero. O máximo que vi foi o pessoal lendo jornalzinhos do estilo "Já" (para quem não conhece este é um jornal de preço e linguagem altamente acessível para trabalhadores de baixa renda e que tem o papel fundamental de propagar as idéias mais reaças nesta mesma gente, superando até a veja). Aliás aqui é só o que tem são esses jornais.

Como 7 é o número da completude vou ficando por aqui.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Policial é proletário, mas é mercenário

Estou escrevendo este post mais com o coraçao do que com a razao, por isso pode sair uma metralhadora de coisas as vezes sem sentido. Tenho que contar da minha viagem até ao equador, do problema da minha matrícula e uma ou outra coisa que me passou esses tantos dias que nao escrevo, mas antes que passe a raiva tenho que escrever este.
Primeiro deixe-me colocá-los por dentro do que está rolando aqui. Uma das "esquinas" da San Marcos fica no cruzamento da Avenida Universitaria com a avenida Venezuela. Pelo que entendi, antes este cruzamento era uma grande zona. Assim como Sao Paulo a prioridade nao é pensar decentemente o transporte público, mas fazer megaconstruçoes que dao visibilidade política e muito dinheiro para os donos de emprenteiras, geralmente amigo dos nossos "representantes". Para o pessoal de sao josé, que deem uma procurada no caso de amor entre a tucanalha e as emprenteiras do vale, que financiaram emanuel, cury e toda a laia de filho da puta do genero que "deixaram a cidade mais bonita", principal justificativa da classe média para votar nos tucanos. Para esses eu recomendo dar uma olhada no caso do pinheirinho e visitar os hospitais públicos, praticamente privatizados por debaixo do pano.
Bom, voltando para cá, o discurso de modernidade, crescer e consolidar a democracia é bem vigente e com esse discurso lançaram a obra do by-pass venezuela, que nada mais é do que ampliar a universitária e fazer subir a Venezuela por cima da Universitária (um viaduto). Acontece que para ampliar a Universitária eles vao tirar só um pedacinho da San Marcos, nada mais que 28000 metros quadrados que foram gentilmente vendidos pelo reitor (apesar da venda ainda nao estar concretizada). Nao é só uma questao simbólica de vender e dizer foda-se a universidade para construir estradas para que as sucatas japonesas (quase todos os carros e "onibus" aqui sao assim, mitsubishi, missan ou toyotas cainda aos pedaços e poluindo pra cacete). Existem dois motivos que pegam: a escasses de espaços para expansao, mas o fato de que a porra da avenida vai passar a menos de 10 metros da faculdade de mecanica de fluidos e a menos de 20 metros da de eletronica, ambas, para variar, quase totalmente desmobilizadas no estilo "deixe que alguém lute por mim". Se voces passarem 5 minutinhos na avenida universitária nao vao querer nem imaginar fazer uma prova do lado dela. A Puc também fica nesta avenida, mas seus prédios ficam todos bem deslocados para o outro lado, dando mais de 50 metros de distância.
Só um apêndice: me lembro uma reportagem daquele lixo da veja mostrando os carros caindo aos pedaços da venezuela e de alguma maneira isso era culpa do chavez e ameaçava a democracia....eles deveriam dar uma passeadinha nos taxis daqui.
Voltando ao by-pass...há meses que os estudantes, depois de terem formulado uma proposta alternativa para o by-pass e nao se colocando terminantemente contra como aparece na mídia (que nao era de se esperar mais do que ser mentirosa), tentam o diálogo legítimo e legal com a reitoria e com a prefeitura metropolitana de lima, responsável pela obra. Ou seja, agindo bem no estilo veja-globo-classe-média-imbecil. É claro que dialogar com estudante nao está na agenda do Castañeda (prefeito) nem do reitor Luiz Izquierdo (que de esquerda nao tem nada), coisa comum na nossa consolidada democracia onde os amigos dos donos de empreiteras detem as decisoes políticas e os mecanismos de diálogo.
Bom, a gente finge que está falando com uma porta uma, duas, tres vezes, ou como Jesus cristo dá a cara a tapa 2 vezes....a terceira é pra cair na porrada! Esse papinho de dialogar e ser pacífico convém para a burguesia reacionária quando o povo se levanta. Na terça-feira aqui tomaram o centro de tecnologia de informatica (añguma coisa assim) e se nao me engano o predio do Sum (sistema uníco de matrícula) e subiram a voz os clamadores e adoradores do diálogo da reitoria burocrática. Depois de muito apanhar da polícia, que irresponsavelmente dá tiros - de chumbo- para o ar, tomar gás lacrimogênio na cara em manifestaçoes pacíficas, ter amigos presos e tudo com o aval do democrático reitor, que adora o diálogo, chegou a vez dos estudantes usarem da "violência".
Para os pacifistas que tem uma jornada de 8 horas diárias e estao achando o que estou dizendo absurdos vou relembrá-los alguns fatos. Do dia primeiro de maio ao dia 4 de maio de 1886 mais de trinta trabalhadores morreram e cerca de 12 policiais nos estados unidos em confrontos que nao mais pediam que as suas queridas 8 horas diárias de trabalho. Os ideais que tanto pregam a burguesia nao foram concretizados pela via pacífica e pelo diálogo, mas sim com muito sangue derramado principlamente pela revoluçao francesa e pela gloriosa (na Inglaterra). As nossas leis trabalhistas aqui foram conseguidas com a morte e prisao de muito sindicalista e ao preço da cooptaçao dos sindicatos. Nao sejamos idiotas e pensemos que estamos numa linha reta sempre melhorando, fique parado na sua casa assistindo tv e ve se seus direitos trabalhistas, seu hospital e sua escola nao vao embora.
Mas é claro, a classe média tem que engolir uns sapos, mas paga convenio de saude, mora em condomínio fechado, tem dinheiro para pagar escola para os filhos, previdencia privada, logo nao tem muita motivaçao material para mexer a bunda da cadeira. Sim, é fácil para nós nessa condiçao pedirmos para quem estar passando fome ter calma, dizer que o Brasil, ou o Peru está crescendo, estamos "caminhando". E as crinças famintas ouvem isso enquanto seus ossos se desfazem e seu cérebro se atrofia.
Pois é, enquanto os tais ossos se desfazem aqui na San Marcos, estava rolando uma porrada feia entre estudantes e policiais. Começou pacificamente e como sempre os policiais a transformaram em muita pedra, muito gás lacrimogênio, caminhoes com jatos d'água e gente ferida dos dois lados. Pela primeira vez na minha vida eu vi uma porrada desse naipe em que os estudantes conseguiam avançar, foi bastante curioso vê-los fazer com que a policía retrocedesse, cinco ou seis malucos correndo atrás de um ou dois policiais para sentar porrada e tomar um de seus carros blindados. No que se trata da açao em sí, sem dúvida o mais impressionante foi a tomada e destruiçao de um carro blindado. Era uma questao estratégica, toda vez que ele avançava a galera tinha que recuar muito para poder tomar posiçao de novo, quando conseguiram tomá-lo o demoliram, pois nao podiam usá-lo. Alguns pensaram em vandalismo, eu penso que se alguém está tentando quebrar seu braço e você pode furar seu olho nao tenha dúvida em faze-lo.
Apesar da polícia aqui me parecer desorganizada, estrategicamente idiota e sem recursos (em diversos momentos acabaram as bombas de gás e chegava uma caminhonete com mais), uma massa dispersa de estudantes desorganizados, sem proteçao e sem reforços para chegarem nao tem muita chance de vencer o confronto. Ou seja, a polícia entrou no campus e a arma dos estudantes passou de pedras a palavras, como palavras nao quebram dedos nem joelhos a polícia começou a levar a galera a rodo, sem motivo e que nem porco um em cima do outro no camburao. Teve gente que nao tinha absolutamente nada a ver que foi "subida" como dissem aqui os mercenários: "súba-los" quando alguém, que as vezes nem era estudante, protestava contra uma prisao arbitraria. Quando estes filhos da puta tomam conta da situaçao eles se sentem muito machos para dar tapa na cara, fechar a tampa do porta-mala no pé dos caras e por aí vai.
Narrado o fato quero colocar alguns itens aos estúpidos que costumam repetir o discurso midiático. Já falei aqui do decreto 982 (detalhe para o DECRETO e nao referendo) que muda radicalmente o código penal e dá carta branca para que os policiais metam balaço a vontade (decretado por Alan García). Aqui também o discurso do terrorismo pegou e a polícia pode te prender sem muito motivo, ou melhor, sem nenhum. Aqui ainda valem 3 dos 4 decretos anti-terroristas de 1992, quando Fujimori assume definitivamente como ditador, mesmo que a OEA (que convenhamos nao é dos órgaos mais democráticos) disse que ferem a convençao Americana dos Direitos Humanos apenas um deles, o 25.659 foi considerado inconstitucional pelo tribunal constitucional do peru. Se pensam que estou mentindo, procurem sobre o caso de Melissa Patiño, acusada de terrorismo e presa na fronteira quando voltava de um congresso bolivariano no equador, completamente aberto e legal. Mesmo assim veja o que a mídia divulga, parece linha direta: http://www.dailymotion.com/video/x5604r_mellisa-patino_news (e mostra que estao te viagiando sim). Assim como ela tem mais uns cinco ou seis que já expiraram o prazo de prisao preventiva e nada sai. Aqui também andaram fechando alguns bares alternativos no centro e fichando todo mundo que estava lá, o último que fiquei sabendo foi no tal do El Averno. Como a Veja é uma grande defensora da democracia e sempre levanta sua voz no caso de ameaças a tal regime (vai tao longe que as vezes apoia até golpes de estado) , como no caso de Hugo Chavéz, dado que nao se pronuncia quanto ao Peru penso eu que aqui estamos num país onde a democracia está consolidada. Me sinto até seguro... e a raiva passou...